11 julho, 2012

FDP

 A memória. Aquilo que nos escapa entre a língua. Entre um momento e outro.
Tenho uma memória de elefante. Lembro-me dos nomes das doentes quase todas.
Não me lembro qual foi a 1ª palavra da minha filha.
A memória é uma filha da puta. Talvez uma puta ela mesma. Que vai com qualquer um. Que se escapa com os nomes com os rostos à nossa frente. Que se escapa em datas importantes.
Não imagino o que será ser velho. Só me lembrar das coisas de quando era novo. Contar as mesmas coisas 500 vezes, porque me esqueço de já as ter contado e não me lembrar onde guardo as meias.
Não imagino o que será ter Alzheimer. Não me lembrar dos meus filhos, dos meus pais, dos que mais amo.
Não imagino o que será, para quem vive da mente, das memórias, da criatividade, ficar desmomeriado. Deve ser perder o Norte, o Sul. Deve ser desolador não nos lembrarmos do que dá cor à vida, as memórias da felicidade. Não me lembrar como exercitar essas felicidades e como as tornar reais.
Podes-te esquecer de nós, Gabriel, mas nós jamais nos esqueceremos de ti.

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